MINIMALISMO: COMO TUDO COMEÇOU
Era uma tarde de fim de outono como tantas outras. O sol frio entrava pela janela da sala, os cães aqueciam-nos as pernas no sofá e tudo nos dizia: sim, esta é a altura perfeita para ver um documentário do Netflix.
Já somos subscritores do Netflix cá em casa praticamente desde que o serviço chegou a Portugal (e eu ainda me lembro de ter Netflix nos Estados Unidos em 2007 quando era preciso encomendar os filmes por correio e eles nos entregavam os DVDs em casa - sim foi assim que começou!). Mas depois de ver tantas séries, começámos a investigar a secção dos documentários e ficámos fascinados.
Naquela tarde em meados de novembro, não sei explicar porquê, mas o título Minimalism: A Documentary About the Important Things chamou-nos a atenção.
- Não é que agora nos vamos tornar todos vegans e minimalistas, - disse, com um riso troçante - mas até pode ser giro perceber melhor o que é o minimalismo. Tenho visto imensos posts sobre isto no Pinterest. Não tens curiosidade?
- Eh pá, força, podemos ver. Eu só quero mesmo é descansar.
E assim clicámos no botão play e toda a nossa vida mudou.
Ok calma, nem toda a nossa vida mudou. Mas foi assim que a nossa vida começou a mudar.
Vamos por partes:
Sobre o Documentário Minimalism: A Documentary About the Important Things
O documentário, com a duração de 78 minutos, acompanha essencialmente o percurso de dois amigos, Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus, na sua descoberta do estilo de vida minimalista, a publicação do seu primeiro livro Minimalism: Live a Meaningful Life e a sua consequente book tour pelos Estados Unidos. Ao longo do documentário, vamos descobrindo o que é que levou estes dois amigos a optar por este estilo de vida (busca pela felicidade, descontentamento com os seus empregos, as suas relações pessoais) e como é que eles o adaptaram para encaixar nas suas vidas. Interpelando esta narrativa, encontramos testemunhos de outras pessoas que optaram por estilos de vida minimalistas - desde quem viva em tiny homes a quem tenha um capsule wardrobe.
Chegamos ao final do documentário percebendo que o minimalismo é simplesmente isto: possuir apenas aquilo de que precisamos. Isto pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes. E penso que, mesmo para nós os dois quatro cá em casa, isso significará coisas diferentes em alturas diferentes da nossa vida.
O Minimalismo para Nós
Assim que terminámos de ver o documentário, ficámos com uma vontade enorme de começar a adotar algumas mudanças no nosso estilo de vida.
Há várias formas de nos iniciarmos pelo estilo de vida minimalista mas a regra de ouro é esta: temos que nos livrar da tralha na nossa vida. E por "tralha" entenda-se aquelas coisas que temos espalhadas pela casa que não nos são úteis, não nos dão qualquer satisfação ou prazer.
(E, caso não seja óbvio, a sub-regra de ouro é: temos que deixar de comprar tralha. Mas já lá vamos.)
Por exemplo: se alguém adora plantas, gosta de cuidar delas e de tê-las em casa para criar um ambiente acolhedor então pode mantê-las em casa e ser minimalista à mesma. As plantas decorativas não têm nenhuma utilidade prática, é verdade, mas se dão prazer a uma pessoa, se a fazem sentir mais em casa, então "podem" ficar. No meu caso, por exemplo, adoro livros. Nunca poderia viver numa casa sem livros e um dia espero poder ter a minha própria biblioteca em casa (algo tipo esta ). Estou super motivada para reduzir a tralha em nossa casa ao minímo, mas nunca, nunca me vou desfazer dos meus livros.
Para nós, meros principiantes neste estilo de vida, começámos pelo mais fácil (e é isto que recomendo para quem está a começar também). Assim que terminou o documentário, saí da sala num frenesi e cheguei ao nosso quarto pronta para me livrar de, pelo menos, metade da minha roupa de outono/inverno. Montinho a montinho, cabide a cabide, fui pegando em cada peça de roupa e coloquei-me duas perguntas:
1. Quando foi a última vez que usei esta peça de roupa? (Se não a tivesse usado uma única vez no último ano, ia logo para o saco "Para dar". Se a tivesse usado menos de 5 vezes no último ano, ia para o monte "Talvez".)
2. Gosto mesmo desta peça de roupa? Ou só uso isto quando sinto que não tenho mesmo mais nada para usar? (Se respondesse que sim à última pergunta, também ia logo para o saco "Para dar". É uma ansiedade irracional, esta de acharmos que "não tenho nada para usar hoje!".)
Assim, aos poucos, enchi 5 sacos (daqueles grandes, reutilizáveis, do Pingo Doce) com roupa em bom estado pronta para ser doada. Outras peças, de tão velhas que estavam, foram diretamente para o lixo - qual era o meu interesse em guardar roupa que já nem estava em condições para ser usada?
Foi incrível o alívio que senti ao ver o meu armário tão mais cheio de espaço, repleto de peças de roupa que eu sei que adoro. Passados uns meses, sinto que já podia fazer uma nova ronda e livrar-me de mais algumas peças, mas vou esperar pelo fim da estação para voltar a fazer uma limpeza.
Uns dias depois, foi a vez da minha secretária. Quantos papéis, pastas, pastinhas, cadernos e tralha vamos acumulando nas nossas secretárias? Arrumei os papéis que tinha que arquivar, deitei fora aquilo que me era completamente inútil, e reorganizei o meu espaço de trabalho para ter um look mais clean e desafogado.
Mais um suspiro de alívio.
Mas ainda há muito por fazer. Ainda quero "atacar":
- O meu armário de primavera/verão;
- A minha estante de livros (sim, eu disse que não me queria desfazer dos meus livros mas também há livros que não gostei de ler e esses posso aproveitar para trocar/vender);
- Todas as gavetas cá de casa, mas especialmente a gaveta da minha mesa de cabeceira que está um caos total;
- As minhas n "caixas de memórias" (sabem aquelas caixas onde guardamos todos os papéis, bilhetinhos, cartas, etc. que fomos trocando com amigas na escola? Não? Sou só eu? Ok.).
E deve haver muito mais. Mas comecemos por aqui. Baby steps :)
E vocês, já aderiram ao minimalismo? O que acham deste estilo de vida?
PS - Para quem tenha curiosidade sobre este tema recomendo mesmo que vejam o documentário no Netflix. Podem ainda vasculhar o site deles, segui-los nas redes sociais (eu gosto de segui-los no Instagram) e comprar os livros deles. Cá em casa, o M já leu o Minimalism: Live a Meaningful Life e recomenda. (Sim, está na minha lista também!)